terça-feira, 4 de dezembro de 2012

O SILÊNCIO - L.C.S.M.



O SILÊNCIO.

Um dos maiores místicos da França, Louis Claude de Saint-Martin, foi chamado “O Silencioso Desconhecido” por seus discípulos. Mais do que ninguém enaltecia ele a virtude do silêncio. Escreveu que grandes verdades são ensinadas somente pelo silêncio.

É no silêncio que o Cósmico, o Ser Divino, torna-se manifesto à nossa consciência. Para que ouçamos a orientação divina, para termos lampejos de intuição, devemos aprender a silenciar a voz subjetiva do nosso pensamento.

O silêncio é um autêntico teste para aquele que, por hábito ou tendência, não pode observá-lo. 
(L.C. de S.M.).

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sábado, 29 de setembro de 2012

VALENTIN TOMBERG


Valentin Tomberg (27 Fev 1900 – 24 Fev 1973) Nasceu no seio de uma família luterana em São Petesburgo, Rússia. Na adolescência inclinou-se ao Martinisimo hermético de G.O.Mebes assim como a Teosofia e o misticismo ortodoxo ocidental. Sua mãe foi assassinada por saqueadores durante a revolução russa, a qual depois Valentin e seu pai deixaram rumo a Tallinn, Estonia onde Tomberg estudou línguas e religiões comparativas na Univerdade de Tartu. Como um jovem homem foi fortemente influenciado por Vladimir Soloviev e teve uma experiência pessoal da Sophia em uma Catedral na Holanda. Em 1925 ele se afiliou a Sociedade Antroposófica, a qual sob auspícios palestrou na Holanda e Inglaterra e escreveu sobre sua compreensão da Bíblia, Antroposofia, e o Cristianismo Esotérico. Durante a Segunda Guerra Mundial, ele abandona a Sociedade Antroposófica.
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domingo, 9 de setembro de 2012

OBRAS DE L.C. DE SAINT MARTIN




"Dos Erros e da Verdade"
A tese desse livro é a de que pelo conhecimento de sua própria natureza o homem pode alcançar o conhecimento do seu Criador e de toda a criação, bem como as leis fundamentais do Universo, das quais encontra reflexo na lei feita pelo homem. Sob essa luz foi mostrada a importância do livre-arbítrio.



"Tábua Natural das relações que existem entre Deus, o Homem e a Natureza"
O homem teria sido privado de suas aptidões e seus meios superiores por ter mergulhado na matéria tão profundamente que nisso perdeu a consciência de sua natureza original, que tinha antes da queda e que era um reflexo da imagem de Deus. Com essa queda o homem ter-se-ia afastado do quadro de seus próprios direitos e deixaria de ser um elo entre Deus e a natureza.



"O Homem de Desejo"
Nessa obra vemos a influência da doutrina de Boehme. Essa obra lembra um dos salmos que exprime o ardor da alma para com Deus e deplora a alma do homem, seus erros e pecados, sua cegueira e sua ingratidão. Nessa obra, Saint-Martin viu a possibilidade de um retorno do homem a seu estado primitivo. Mas esse retorno só seria possível com o abandono da vida do pecado e seguindo os ensinamentos do Redentor Jesus Cristo, o Filho de Deus, que desceu das alturas de Seu trono celestial por amor a toda humanidade.



"Ecce Homo"
Saint-Martin adverte para o perigo de buscar a excitação das emoções das experiências mágicas de baixo nível, das premonições, dos diversos fenômenos que não passam de expressões de estado psico-físicos anormais do ser humano.



"O Novo Homem"
Nesse livro é tratado o pensamento como um órgão de renascimento que permite penetrar no mais profundo do ser humano e descobrir a verdade eterna de sua natureza. A alma do homem é um pensamento de Deus.



"Do Espírito das Coisas"
Nesse livro o autor declara que o homem, criado à semelhança de Deus, pode penetrar no seio do Ser que está oculto por toda a Criação e que graças a sua clara visão interior, ele é capaz de ver e reconhecer as verdades de Deus depositada na Natureza. A luz interior é um reflexo que ilumina as formas.



"O Ministério do Homem Espírito"
Aqui o Filósofo Desconhecido completa todas as indicações precedentes, apresentando um objetivo que não é diferente, qual seja, o da ascensão de uma alta montanha. O homem escala impelido por uma necessidade interior e no antegozo da vitória, que traz a liberdade após tribulações e sofrimentos. É a volta do filho pródigo ao Pai, sempre cheia de caridade e perdão. Isso é alcançar a unidade perfeita com Ele: "O Pai e eu somos um".



"Dos Números"
Trata-se de urna obra inacabada, mas contém muitas indicações importantes que não poderiam ser encontradas em outra parte. Ele analisou os números de um ponto de vista metafísico e místico. Nos números encontrou uma confirmação da queda e do renascimento do homem.



"O Crocodilo"
Descreve , através de um poema épico de 102 cantos, a maneira como o mal se insinua nas coisas sagradas e com perfídia ele destila seu veneno para destruir aqueles que são cegos e insensíveis. Mas o mal dispõe de um tempo limitado e pode ser facilmente reconhecido por sinais discerníveis; não pode iludir aqueles que tem a visão da consciência, que observa, e são cavalheiros de nobres desígnios.



"Nova Revelação"
Saint-Martin trata nessa obra do livre-arbítrio. o homem pode alcançar toda a verdade pelo conhecimento de sua própria natureza mediante todas as aptidões que ele tem: físicas, intelectuais e espirituais. Deve compreender profundamente a ligação que existe entre sua consciência e seu livre-arbítrio.



Nas obras póstumas do Filósofo Desconhecido foram publicados certos escritos curtos de sua autoria, dentre os quais são destaques: "Pensamentos Escolhidos, numerosos fragmentos éticos e filosóficos, poesias incluindo "o Cemitério de Amboise", "Estrofe Sobre a Origem e o Destino do Homem", além de meditações e preces. Louis-Claude de Saint-Martin era um cavalheiro empenhado nu busca da luz. Foi reconhecido como um dos maiores místicos da França, mas a obra de sua vida não se limitou às coisas que escreveu. Toda a sua existência foi dedicada à idéia de um grande renascimento da humanidade e ele desencadeou um eco profundo, não somente na França mas também no Oeste e no Leste da Europa.

domingo, 1 de julho de 2012

ASSIM DIZIA PARACELSO...



Assim dizia Paracelso...

I
Se, por um espaço e alguns meses, observares rigorosamente as prescrições, que se seguem, ver-se-á operar, em tua vida uma MUTAÇÃO TÃO FAVORÁVEL, que nunca mais poderás esquecê-las. Mas, meu irmão, para que obtenhas o êxito desejado, é mister que adaptes tua vida à estrita observância destas regras.
São simples e fáceis de seguir, mas é preciso observá-las com a máxima perseverança. Julgarás que a felicidade não vale um pouco de esforço? Se não és capaz de pores em prática estas regras, tão fáceis, terás o direito de te queixares do destino? Será tão difícil a tentativa de uma prova? São regras legadas pela antiga Sabedoria e há nelas mais transcendência do que simplicidade, como parece à primeira vista.

II
Antes de tudo, lembra-te de que não há nada melhor do que a saúde. Para isso deverás respirar, com a maior freqüência possível profunda e ritmicamente, enchendo os pulmões, ao ar livre ou defronte de uma janela aberta. Beber quotidianamente, a pequenos goles, dois litros de água, pelo menos; comer muitas frutas; mastigar bem os alimentos; evitar o álcool, o fumo e os medicamentos, salvo em caso de moléstia grave. Banhar-se diariamente, é um hábito que deverás à tua própria dignidade.

III
Banir absolutamente de teu ânimo, por mais razões que tenhas, toda a idéia de pessimismo, vingança, ódio, tédio, ou tristeza. Fugir como da peste, ao trato com pessoas maldizentes, invejosas, indolentes, intrigantes, vaidosas ou vulgares e inferiores pela natural baixeza de entendimentos ou pelos assuntos sensualistas, que são a base de suas conversas ou reflexos dos seus hábitos. A observância desta regra é de importância DECISIVA; trata-se de transformar a contextura espiritual de tua alma. É o único meio de mudar o teu destino, uma vez que este depende dos teus atos e dos teus pensamentos: A fatalidade não existe.

IV
Faze todo bem ao teu alcance. Auxilia a todo o infeliz sempre que possas, mas sempre de ânimo forte. Sê enérgico e foge de todo o sentimentalismo.

V
Esquece todas as ofensas que te façam, ainda mais, esforça-te por pensar o melhor possível do teu maior inimigo. Tua alma é um templo que não deve ser profanado pelo ódio.

VI
Recolhe-te todos os dias, a um lugar onde ninguém te vá perturbar e possas, ao menos durante meia hora, comodamente sentado, de olhos cerrados, NÃO PENSAR EM COISA ALGUMA. Isso fortifica o cérebro e o espírito e por-te-á em contanto com as boas influências. Neste estado de recolhimento e silêncio ocorrem-nos sempre idéias luminosas que podem modificar toda a nossa existência. Com o tempo, todos os problemas que parecem insolúveis serão resolvidos, vitoriosamente por uma voz interior que te guiará nesses instantes de silêncio, a sós com a tua consciência. É o DEMÔNIO de que SÓCRATES falava. Todos os grandes espíritos deixaram-se conduzir pelos conselhos dessa voz íntima. Mas, não te falará assim de súbito; tens que te preparar por algum tempo, destruir as capas superpostas dos velhos hábitos; pensamentos e erros, que envolvem o teu espírito, que embora divino e perfeito, não encontra os elementos que precisa para manifestar-se.

VII
A CARNE É FRACA Deves guardar, em absoluto silêncio, todos os teus casos pessoais. Abster-se como se fizesses um juramento solene, de contar a qualquer pessoa, por mais íntima, tudo quanto penses, ouças, saibas, aprendas ou descubras.
É UMA REGRA DE SUMA IMPORTÂNCIA.

VIII
Não temas a ninguém nem te inspire a menor preocupação a dia de amanhã. Mantém tua alma sempre forte e sempre pura e tudo correrá e sairá bem. Nunca te julgues sozinho ou desamparado; atrás de ti existem exércitos poderosos que tua mente não pode conceber. Se elevas o teu espírito, não há mal que te atinja. Só a um inimigo deves temer: A TI MESMO. O medo e a dúvida no futuro são a origem funesta de todos os insucessos; atraem influências maléficas e, estas, o inevitável desastre. Se observares essas criaturas, que se dizem felizes verás que agem instintivamente de acordo com estas regras. Muitas das que alegam que possuem grandes fortunas podem não ser pessoas de bem, mas possuem muitas das virtudes acima mencionadas. Ademais, riqueza não quer dizer felicidade; pode se constituir em um dos melhores fatores, porque nos permite a prática de boas ações, mas, a verdadeira felicidade só se alcança palmilhando outros caminhos, veredas por onde nunca transita o velho Satã da lenda, cujo nome verdadeiro é EGOÍSMO.

IX
Não te queixes de nada e de ninguém. Domina os teus sentidos, foge da modéstia como da vaidade; ambas são funestas e prejudiciais ao êxito. A modéstia tolherá tuas forças e a vaidade é tão nociva como se cometesses um pecado mortal contra o ESPÍRITO SANTO. Muitas individualidades de real valor tombaram das altas culminâncias atingidas, em conseqüência da Vaidade; a ela deveram certamente a sua queda Júlio Cesar, aquele homem extraordinário que se chamou Napoleão e muitos outros. Oxalá, sigas sempre estas poucas regras para a tua FELICIDADE, para o teu BEM e a nossa ALEGRIA.

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A PUREZA NO MARTINISMO




A PUREZA NO MARTINISMO
Frater Zelator SI SII


Louis-Claude de Saint-Martin, escreveu certa vez que considerava obrigação do instrutor místico "conduzir a mente do ser humano por um caminho natural para as coisas sobrenaturais que lhe pertencem por direito, mas das quais perdeu ele toda noção, em parte por sua degradação, em parte pela instrução freqüentemente falsa de seus instrutores". Provavelmente já se tornou evidente que estamos cumprindo essa obrigação, primeiro auxiliando o postulante a abandonar as falsas noções do mundo profano e, segundo, ensinando ao desperto Homem de Desejo a técnica pela qual poderá ele progredir mais seguramente rumo, "às coisas sobrenaturais que lhe pertencem por direito". No momento vamos considerar dois pontos que servirão de preparação para discursos seguintes. Esses pontos dizem respeito ao sacrifício ou à subjugação do Eu carnal e à Senda da Pureza, ou Óctupla Senda. Como o ser humano era puro antes da queda simbólica e se tornou impuro ou misturado à matéria por causa da mesma, os Martinistas fazem da pureza um ideal sagrado. Assim agem eles graças à sua confiança na veracidade das palavras do Mestre Conciliador: "Bem-aventurados são os puros de coração, pois eles verão Deus". Para o Martinista, pureza primordial é sinônimo de Unidade Divina. Tendo-a por meta, sua constante preocupação é encontrar o melhor meio de alcançá-la.


Fomos advertidos no sentido de sacrificarmos a natureza sensual. No padrão trino do Martinismo, o 1º Grau na Senda Martinista poderia ser chamado de "Grau do Sacrifício", ou da subjugação do Eu carnal. Isto não deve ser entendido como a extirpação, ou o aniquilamento dos desejos do corpo. E sim como a sua subordinação, a fim de que as necessidades da nossa natureza anímica e do Eu superior sejam libertadas de obstáculos e frustrações. O ser humano é um ser complexo e extraordinário. Nele encontramos a natureza angélica e a natureza animal ou demoníaca. O treinamento espiritual que recebemos pelos sublimes ensinamentos do Martinismo requer a subjugação do animal no ser humano e a libertação do seu ser angélico. Assim, como disseram os antigos Mestres, "obterás a Liberdade da Alma e da Mente, lutando contra tuas paixões, tuas ânsias terrenas; e assim poderás esperar conquistar a liberdade tão louvada, tão exaltada, tão verdadeiramente divina".


Embora o sofrimento seja urna parte inevitável do desenvolvimento superior, não é um fim em si mesmo e não é somente por ele que Deus pode ser alcançado. O ensinamento que afirma o contrário é uma distorção ou inversão da verdade mística. O caminho do ascetismo termina em aridez de corpo e coração. Todo Homem de Desejo deve aprender a superar a tentação para vencer a silenciosa luta interna contra seus adversários, os seus sentidos. É um triste engano aceitar como verdadeira a idéia de que "quanto maior o pecador, maior é o santo", pois é uma distorção do discernimento correto pensarmos que é preciso descer ao mais baixo para subir ao mais elevado. Este ponto de vista falseia e exagera o fator tentação.


Platão, um de nossos antigos predecessores, declarou que a alma estava acorrentada enquanto permanecia no corpo; mas isto não nos leva, como Martinistas, nem a desprezar o corpo nem a necessariamente reverenciá-lo. Nosso envoltório físico é um maravilhoso exemplo da lei natural e espiritual; não obstante, é uma severa arena e testes para o ser espiritual em nosso interior. Estamos precipuamente interessados na liberação dos poderes e faculdades superiores do ser humano espiritual interior, pois, em última análise, só a parte espiritual é real, imortal e capaz de divina reintegração.


Fonte: Hermanubis Martinistahttp://www.hermanubis.com.br/

domingo, 10 de junho de 2012

O HOMEM DAS ALTURAS E O HOMEM DA TORRENTE

O HOMEM DAS ALTURAS E O HOMEM DA TORRENTE

Por Marc Haven (Dr. Emmanuel Lalande)

A assustadora, esmagadora a massa de obras publicadas sobre as questões religiosas: livros sagrados, comentários, apologética, história das religiões e - especialmente desde o século XVIII crítica dos textos, estudos sobre os mitos, sobre a evolução das religiões, pesquisas sobre a natureza da fé, sobre suas origens! O salão da Biblioteca Nacional não seria suficiente para abrigar todos esses livros.

É apavorante, atroz, o pensamento dos rios de sangue derramados, das torturas suportadas desde os tempos primitivos até nossos dias em nome dessas duas palavras: os dogmas, a fé.

O que existe é o homem, com um coração que ama, que gostaria de ser amado, de compreender melhor para melhor amar. E isto é tudo. É isto que sentimos, que sabemos, que nasce em nós, conosco.

O homem ama a partir do momento em que pensa. Como o feto que, tão logo desligado de sua mãe, torna-se um eu, abre sua boca, busca o ar em um primeiro grito; da mesma forma a alma humana, desde que pensa - e isto se dá muito rápido - ama, busca o amor, estende seus braços às carícias da natureza e às dos homens.

Surgiu então diante dele um homem com estátuas ou uma mulher com bonecas, todos os dois o cativando com cantos e imagens atraentes, falando de misteriosos perigos, de livros sagrados, de promessas, de ameaças, de segredos.

A partir do momento em que um homem te diz: "Eis o livro sagrado, eis o único, o verdadeiro livro; eis o Credo que se faz mister saber, vinde ao Meu Templo...", esteja certo de que tens diante de ti um homem que o orgulho, o erro ou, ainda mais freqüentemente, o interesse, fazem falar. Não discuta, fuja, fuja aterrorizado!

A partir do momento em que em tuas pesquisas teus olhos caem sobre um livro intitulado Críticas de tal religião, exposição de tal doutrina, ensaio sobre a evolução dos dogmas, etc., não o abras, foge, foge desgostoso.

Mais ainda, quando tua razão se mostra inquieta, levanta objeções sobre a antinomia da Fé e da Ciência, afasta esse fantasma, reencontra o bom cantinho, a natureza, o mundo vivente, harmonioso; foge da tua razão! foge dos demônios que deixaste penetrar em ti. Porque não são os homens, nem os livros, nem tua Ciência que irão te fornecer a solução do problema; nem o saber, nem a Paz.

É certo que se podem escrever volumes sobre volumes sem esgotar a história das loucuras, das crueldades humanas. É certo que houve segredos, conchavos, autos-de-fé, predicações e ritos desde a aurora dos tempos até nossos dias. Mas de que serviram todos esses atos, que adiantaria para ti estudá-los? Que ganharíamos com isto?

Que ganhará aquele que deixar de ser judeu para tornar-se cristão, protestante, depois católico? Não terá ele o mesmo coração, provavelmente inquieto com o mesmo escrúpulo? Não, o problema é outro e mais simples e resulta do seguinte:

Há duas categorias de seres humanos, apenas duas. Temos, de um lado, aquele que ainda possui, desenvolvido, o estado de espírito original de seus primeiros dias e que chamaremos o espírito religioso:

esse ímpeto de amor que ele havia potencialmente engendrado. Ele pode pertencer a não importa que seita, confissão ou sociedade; ele busca, deseja a felicidade para si e para os outros; ama e gostaria de ser amado. Essa emoção que o emudece diante do belo, empurra-o para o bem, é um movimento irreversível espontâneo, diante do qual ele esquece inteiramente de si. Amo, desejo, quero compreender (isto é, tomar em mim, reunir à unidade em mim). Busco por detrás do objeto da idéia sua tradução em minha língua pessoal, seu eco em meu coração, seu parentesco com aquele desconhecido que persigo por todo o Universo, sob todos os fenômenos.

Quero apenas esta relação com a unidade, um número, um local em um sistema lógico? Não, isto não passaria de um puro jogo filosófico, que não preencheria nem meu coração, nem minha vida. É o amor que me preme e que eu chamo, é um ser vivente e amante que busco, não uma fórmula. Por que? Porque sou feito assim. Não tenho a pretensão de explicá-lo, mas eu o sinto, eu o vivo, e isto ultrapassa toda explicação.

O fato de formular este problema, a emoção que me emudece, já me mostram que a solução existe, que o problema está mesmo resolvido. "Não me buscarias se já não me tivesses encontrado" (em ti).

Já encontramos estas palavras de Jesus expressadas quatro mil anos antes de sua vinda, nos textos dos Sábios da China. É um entusiasmo imperioso, não uma adivinhação filosófica fria, indiferente. Eis a diferença!

Aqueles que mantiveram em si esse fogo divino - por menos numerosos que sejam em alguma família, em algum lugar que o destino os tenha colocado, pessoas importantes no mundo ou simples camponeses, sacerdotes ou soldados - fazem parte do mesmo grupo.
Através do espaço, ignorando inclusive suas existências, eles estão unidos em um mesmo ideal. Nenhuma seita os prende, e nenhuma raça, nenhuma profissão interpõe barreira entre eles.

Esse estado de espírito não se limita a ser um sentimento improdutivo. Os que o possuem agem; seus atos são simultâneos, intercambiáveis e fecundos. Do sentimento nasce o saber, o conhecimento real, o discernimento dos espíritos (discernir os espíritos é reconhecer em cada indivíduo seu mandato, seu nome, a função para a qual ele foi criado e ajudá-lo no cumprimento de sua obra). Sua vida é caridosa por seu exemplo. O caminho se revela diante deles e eles podem indicá-lo aos outros. Esse caminho é a renúncia ao "Eu", o abandono ao espírito, o caminho da Cruz.

Mas não se trata aí de uma religião, menos ainda de uma ciência ou filosofia. A religião formula seu Deus, seu Credo. É Manu, Jeová ou o Sol. Ela cria ritos, castas, sanções, constroem templos e celas. Ela entra no mundo para a conquista desse mundo. O espírito religioso não formula nada, não limita nada, conhecedor que é da fragilidade de sua razão, da mobilidade da sua imaginação. Ele encontra o UM presente tanto na floresta quanto na cidade. Ele não materializa o espírito nas palavras ou em pedras; ao contrário, ele transmuta a matéria em espírito, sabendo que dessas pedras Deus pode fazer nascer os Filhos de Abraão. Ele faz sacrifício em todos os Templos e mesmo em lugares públicos. Fato capital que diferencia o espírito religioso do espírito do mundo, seja em meio aos acadêmicos ou às Igrejas; é que o espírito religioso é um sentimento e em nada revela ostentação. É um amor, é o Amor, enquanto que o espírito do mundo é científico, repousa sobre a experiência, sobre o raciocínio, recusando qualquer elemento emotivo.

Os que compõem esta segunda classe da humanidade são as pessoas práticas positivas: homens de negócio, de ação, os struggle for life, que observam, classificam, pensam tudo e buscam tirar o melhor partido possível de tudo o que os cerca para a ampliação do seu Eu. Eles podem atingir, no homem de ciência, no homem de estado, uma grandeza considerável, elevar-se a alturas metafísicas que, à primeira vista, se confundem com o espírito religioso, mas que dele diferem inteiramente pelo fato de partirem da sensação, atribuindo ao mundo exterior uma importância primordial; apóiam-se na razão, na lógica, como meio, e têm um único objetivo: o desenvolvimento do seu Eu ao máximo de suas possibilidades, mesmo que às expensas de outrem. É o Ser racional que não abre nele os diques do amor, a não ser que esteja seguro de auferir daí um proveito imediato ou futuro.

Ora, os dados dos sentidos nos quais ele se apóia são inverificáveis; nossas sensações subjetivas, incomunicáveis. A razão é uma máquina muito aperfeiçoada, mas que não pode trazer nenhum resultado, nenhum novo produto. Ela molda o grão; não saberia produzi-Ia. Se ela é empregada por um coração humano, dirigi da e alimentada por ele, então fornecerá um trabalho melhor ou pior, segundo o valor do operário. Mas, mesmo neste caso, ela é incapaz de nos revelar o ser e os sentimentos daquele que o emprega. Já o filósofo conhece apenas a razão, só quer servir-se dela. Ele parte do nada e chega ao nada; do desconhecido no infinitamente grande, ao desconhecido no infinitamente pequeno, das nebulosas ao átomo, da massa inexistente à força incompreensível sem ela. Ele discute inclusive os postulados de que parte e, sobre esta ciência, alicerça uma moral, uma sociologia.

Suas produções materiais, suas leis, servem o mal com a mesma intensidade que o bem. Ele se cerca de um nevoeiro, se enreda nos elos; cria para si uma vestimenta de folhas e de peles de animais que chegam a fazer desaparecer seu próprio corpo. Ao cultivar a vontade, o Eu, semeia o germe das futuras destruições. E não poderia se dar de forma diferente, já que sua inteligência, oposta ao espírito, ao UM, traz o selo do binário, da divisão.

É assim que a humanidade se encontra dividida em duas categorias de seres que, mesmo falando a mesma linguagem, mesmo que intimamente misturados em sua vida cotidiana e sob o verniz da mais perfeita cortesia, são e permanecerão eternamente inimigos. É exatamente quando têm o ar de estarem no mais perfeito acordo, é quando pronunciam as mesmas frases, que estão mais distanciados do ' coração.

Em todos os países, em todas as raças e religiões, pode-se encontrar uns - em pequeno número - e outros em massa, porque o egoísmo, a luta pela vida, reinam na humanidade. Mas essa grande massa que se inclina diante da ciência, diante da razão, a última deusa, não tem o poder que se poderia supor. Interesses, ambições, crenças, fazem de cada um o inimigo daquele que deveria ser seu companheiro de armas na batalha contra os defensores do espírito. Os homens de ação, de luta, destroem incessantemente pela própria prática de seus princípios, essas nações que eles construíram pela conquista, cercadas de fronteiras, de leis, nações sempre perturbadas por trustes, greves, guerras, revoluções, até o ponto em que não restem senão as agulhas das coníferas.

Entre eles, semeados pelo mundo, estão os outros, aqueles que chamamos "homens de espírito religioso". Artesãos, camponeses, padres ou soldados, pouco importa, são os justos de que fala o Zohar, aqueles dos quais basta um para salvar uma cidade. São os operários do Senhor, os sustentáculos do Mundo. Eles vivem irreconhecíveis no meio da multidão, desprezados em geral, longe dos colégios, das capelas, mais longe ainda das sociedades ditas iniciáticas. Em torno deles encontram-se alguns homens dotados, que vivem de sua luz, que respiram suas almas.

É a estes "homens dotados" que falamos, que lembramos a frase de Lao-Tsé: "Retornai à simplicidade primitiva", e o ensinamento do Cristo: "Se não vos tornardes crianças, não conhecereis o Reino de Deus".

Porque na simplicidade primitiva o homem possuía esse poder de amor que engendra o homem de desejo, depois o Homem-Espírito. A porta superior do seu coração se abre: o Espírito penetra nele, ele se torna UNO nesse espírito com o Senhor. Ele tem toda liberdade, todos os poderes, como disse o apóstolo Paulo: "O Senhor é espírito; lá onde está o espírito, está também a liberdade". Aí se encontra o único problema que se coloca e que se faz mister resolver; é o único caminho a seguir; é a boa nova (Evangelho) que, de idade em idade, sob formas diversas, os anjos vêm repetir, da qual eles testemunham por vezes ao custo de sua vida, sempre ao custo da sua paz e da sua felicidade, quando não se elevam a esta suprema santidade que Nosso Senhor Jesus Cristo foi o único a atingir, nas alturas da sua Cruz.

19 de agosto de 1926
Esta matéria foi republicada no N. 1 de 2002 da edição francesa de L´Initiation.
Retirado da edição em português da revista L´Initiation, N. 9 de 2003.