sexta-feira, 28 de outubro de 2011

NICOLAS IVANOVICH NOVIKOV



NICOLAS IVANOVICH NOVIKOV
Um dos fundadores do Martinismo
por Robert Ambelain


Nicolas Ivanovich Novikov nasceu em 7 de maio de 1744 em Avdotino, perto de Moscou, e morreu nesse mesmo local em 12 de agosto de 1818, aos 74 anos.

Escritor russo que entrou na história, fundador de vários jornais satíricos (O Bordão, 1769-1770; O Pintor, 1772-1773; A Bolsa, 1777), foi um dos mais corajosos representantes da crítica social no reinado de Catarina II e chamou a atenção sobre a miséria do camponês russo. Diretor do diário As Notícias de Moscou a partir de 1779, foi também um dos introdutores da Franco-Maçonaria na Rússia, sendo por isto mesmo condenado à morte em 1792. Esta condenação foi comutada em quinze anos de detenção na fortaleza de Schlüsselburg. Novikov foi libertado em 1796, quando da elevação do Tzar Paulo I, um imperador muito liberal e dos mais progressistas, a quem retornaremos um dia, pois ele foi, muito provavelmente, um de nossos irmãos martinistas. Franco-maçom (ele foi levado à Maçonaria por seu amigo, o príncipe Kurakin), foi a esse título que avocou a si a libertação de seu irmão Novikov.

Tão logo foi libertado, este último renunciou a qualquer atividade literária. Ele havia então publicado importantes coletâneas de documentos sobre a história da cultura nacional, em particular uma Biblioteca Russa (1773-1784). Fora, por outro lado, o autor de brochuras e de livros destinados a erguer o nível moral da nação, pelo menos em intenção dos russos que sabiam ler, porque nesta época seu número não passava de alguns restritos milhares: comerciantes, burgueses, nobreza.

Como homem prático, havia instituído toda uma série de escolas populares, abrindo em seguida gráficas onde fazia imprimir manuais para essas escolas, assim como outras obras instrutivas e morais que custavam apenas alguns copeques, e às vezes absolutamente nada. Depois organizou hospitais, mas como uma parte ínfima da população podia aproveitá-los, estabeleceu farmácias que forneciam gratuitamente aos indigentes os remédios exigidos por seu estado. Fez ainda surgir em diferentes bairros de Moscou sociedades de benemerência e criou esta importante sociedade que tinha por objetivo fornecer pão e víveres de primeira necessidade aos pobres dos vastos territórios da Rússia, no caso, bastante freqüente, de más colheitas. Eis aí uma tarefa que, antes dele, nenhum homem, agindo a título privado, havia conduzido com sucesso. Deve-se admitir que a imensa fortuna de alguns de seus irmãos, os martinistas e os franco-maçons russos, permitiram-no fazer. Foi assim que o discurso que pronunciou na abertura desta última instituição foi bastante inspirado e convincente a ponto de levar um rico negociante de Moscou a remeter-lhe vários milhões de rublos.

No antigo Museu Rumjansov, em Moscou, encontram-se as jóias e paramentos dos maçons e dos martinistas russos da época. Em sua obra Louis-Claude de Saint-Martin, Papus confirma havê-los examinado quando de sua primeira viagem a esta cidade. Encontravam-se lá, igualmente, alguns desses relatórios chamados "penitências", que os membros da Rosa-cruz russa, oriunda da Rosa-cruz Áurea fundada na Alemanha em 1570, deviam fazer chegar periodicamente aos Superiores da Ordem. Segundo Pypin, em um desses documentos, Novikov exprime-se assim:

"Com um coração verdadeiro e puro, reconheço que não compreendi o sentido das preciosas colunas sobre as quais repousa a Ordem Sagrada, ou seja, o amor a Deus e ao próximo, ou melhor, que o compreendi mal, pensando que o homem era em si capaz de amar a Deus e ao seu próximo. Estava mesmo tão cego que acreditava cumprir os mandamentos de Deus; mas agora, agradeço com lágrimas ao meu Salvador, por haver-me permitido ver e reconhecer minha cegueira. Ele me fez compreender e sentir que o amor é um dom de Deus, que ele outorga aos seus santos. Há momentos em que eles experimentam do amor ao próximo e têm a firme persuasão de amar igualmente a Deus. Mas esses minutos são passageiros...".

Em seus escritos, Nicolas Novikov ergueu-se com determinação contra os jesuítas. Ora, na época eles contavam com o favor e a proteção de Catarina II. Além do que o conjunto iniciático constituído por Novikov e seus amigos Schwartz, Galitzin, etc., compreendia três
etapas:

a. o Martinismo, onde estudava-se de maneira simplesmente didática o conjunto das ciências ditas ocultas (astrologia, magia, alquimia) e os ensinamentos de L.C. de Saint-Martin, levados à Rússia pelos amigos russos do Filósofo Desconhecido;

b. a Estrita Observância Templária, vinda da Alemanha e no seio da qual existiam grupos secretos nos quais praticava-se o ensinamento teórico precedente;

c. a Rosa-cruz, oriunda da Rosa-cruz Áurea alemã, fundada em 1570, e no seio da qual estudavam-se as doutrinas iniciáticas tradicionais: gnose Alexandrina, cabala hebraica, paganismo eslavo.

Sem se darem conta, o clero ortodoxo e os jesuítas desencadearam uma ofensiva contra esse conjunto e seus dirigentes. Sabemos bem o que aconteceu depois. Uma associação de homens afortunados, apaixonados pelos ensinamentos de um homem como L.C. de Saint-Martin, ardente defensor da Revolução Francesa em sua célebre carta, não podia deixar de atrair acusações. Elas não faltaram. Seus membros foram colocados sob a suspeita de exigir de seus aderentes e por escrito uma declaração contrária a todos os princípios dos estados monárquicos; que se esforçavam para conquistar a boa vontade do povo distribuindo víveres e medicamentos; que escondiam em seus lares todo um arsenal destinado a armar uma tropa facciosa.

Foi assim que as prevenções tomaram corpo. O chefe de polícia recebeu ordem de cercar as casas e efetuar perquirições. Não eram encontrados nem canhões nem grandes quantidades de pólvora. Mas como eram todos eles grandes caçadores, naturalmente possuíam fuzis e carabinas, além de pistolas para as saídas noturnas. E tudo isto bem à vista. Pois foi o suficiente para sustentar as acusações, e nossos irmãos martinistas e maçons foram lançados às celas geladas da fortaleza de Schlüsselburg, pés e mãos acorrentados, na primavera de 1792. Só viriam a sair de lá em 6 de novembro de 1796, por um decreto de seu irmão, o Tzar Paulo I. Haviam lá permanecido cerca de cinco anos... No entanto, e para sermos justos, acrescentemos que (condenados à morte pelos tribunais, viram suas penas comutadas em quinze anos de detenção por Catarina II), isto provavelmente salvou-lhes a vida, pois não se vivia quinze anos nas celas de Schlüsselburg.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

O MESTRE PHILIPPE DE LYON





O MESTRE PHILIPPE DE LYON
FRANÇOIS TROJANI


TRADUZIDO DA REVISTA: “L´ORIGINEL” N 2

Não se pode classificar o Mestre Philippe Nizier como fundador, sucessor, nem como tendo pertencido a uma ordem Iniciática antiga ou recente.

Todavia, seu impacto sobre algumas das figuras de proa dessas ordens foi certamente considerável. Citaremos como lembrança os mais conhecidos, Papus, Sedir, Marc Haven, etc.... eles mesmos tendo participado em graus diversos nas organizações iniciáticas da época, Martinismo, Maçonaria, Igreja Gnóstica, O.F.B., etc..
Através dos documentos que pudemos consultar, temos fortes razões para pensar que não se tratava senão da parte visível do iceberg. Um número considerável de ocultistas, de espiritualistas, de pesquisadores e de homens políticos o consultaram, em graus diversos. Cremos que ele possuía uma estranha faculdade. Qualquer que seja o meio, ou as circunstâncias, que o conduziam a agir, ele se lhes manifestava. Para os cuidadosos Lyoneses, era um “curador”, é preciso dizer, fora do comum, para os homens de fé um santo, para seus inimigos um feiticeiro alcoólico, para os ocultistas um taumaturgo, para os políticos um agente secreto, e para os jogadores de bola de gude da praça Bellecourt, um agradável parceiro.

Chegamos até mesmo a consultar um documento que faz referência a ele, em sua juventude em Lyon, como a uma espécie de radiestesista incomparável para encontrar papéis ou objetos perdidos. E era, em geral, extremamente raro que cada uma dessas pessoas ou desses meios tivesse a mínima idéia de suas atividades afora. Ele manifestou desde a infância os mais estranhos dons e poderes incomuns.

Durante anos, por ocasião de diferentes estadas em Yennes, pequeno vilarejo da Savóia perto de seu local de nascimento, Loisieux, fizemos enquetes sobre sua juventude. As testemunhas diretas haviam desaparecido, mas subsistia ainda entre alguns dos descendentes trechos de histórias e algumas lendas.

Por exemplo a efetiva cura das dores de cabeça que ele fazia unicamente com sua presença, a bola de fogo que acompanhava a Eucaristia na hora da comunhão, etc. Um lenda relata que ele estava em comunicação com um reino subterrâneo estranho sob o Mont du Chat. No que nos diz respeito, pensamos que ele foi uma criança como as outras, muito amado, numa família piedosa e unida. Sem dúvida alguma, se tivessem desejado, seus irmãos teriam dito mais a respeito. Um destes últimos, Benoît, professor num vilarejo vizinho, era ele próprio uma personagem muito estranha. Ele estava em verdadeira osmose de espírito com o Mestre Philippe. Um outro de seus irmãos só falava dele depois de tirar o chapéu... É, ainda assim, coisa rara nas famílias.

As histórias sobre o Mestre Philippe abundam e, como sempre, cada qual só retém o que lhe interessa ou o confirma em sua via. Nossa proposta neste artigo não é a de recapitular estas últimas.
Retermos simplesmente este primeiro fato. Ele nascera com esses dons. Possuía os poderes que ele manifestou plenamente no decurso de uma precedente e extraordinária vida, como o livro de Marc Haven deixa suspeitar, uma herança familiar de uma missão particular de reabertura do “livro da vida”? Outras tantas pessoas, encontros, e como sempre outras tantas opiniões.
Por vezes ele se concentrava um instante; ele pedia ao céu ou por vezes, segundo sua fórmula, ocorria-lhe de dizer “agrada-me que...”; ele rezava, seguindo as formas mais clássicas, o Pai Nosso e a Ave Maria, ele só se referia ao Evangelho, ao Pai ou a Cristo.

Tinha lugares de predileção aonde gostava de ir e meditar, não muito longe da pia de água batismal, na entrada da Basílica de Fourvière em Lyon. Numa velha capela, dedicada a Santa Filomena, subindo em direção a Fourvière na margem da estrada. Mais estranhamente, quando estava de passagem em Paris, no cemitério próximo à antiqüiquíssima Igreja St. Pierre de Montmartre, perto de um jazigo de Cristo. Ele era um bom cristão, jamais criticava as instituições ou as pessoas mas tanto quanto sabemos, ele não manifestava um amor imoderado pela Igreja.

Fora da calma propícia ao recolhimento e à prece, penso, contudo, que esses comentários são uma fraquíssima percepção de seu verdadeiro trabalho, a parte emergida de sua passagem por este mundo.
Muito jovem, ele dá sessões de cura em Lyon, seguindo nisso um método particular, ultrapassando amplamente o quadro do simples magnetismo curativo. Isso poderia ser expresso em algumas frases, edificantes a mais de um título sobre a validade e eficácia do poder. “Recebi o poder de comandar”, “eu vos afirmo que tenho um grau que me permite perdoar as faltas.”

Sem cessar ele voltava aos ensinamentos dados nas sessões quotidianas, insistindo na humildade, na prece e no amor ao próximo, sem os quais qualquer tentativa de curar os doentes permaneceria inoperante no tempo.
Ele assumiu, no entanto, aulas, de uma relação completamente relativa com as ministradas por Hector Durville em Paris, sobre um magnetismo muito particular. Ele próprio jamais utilizava os passes. Suas aulas eram ilustradas por experiências surpreendentes. Mergulhava-se verdadeiramente num outro mundo em que o milagre era constante: com demonstração física a cada instante daquilo que fora antecipado.

Na aula de 26 de dezembro de 1895, na qual 75 pessoas estavam presentes, nota-se a experiência seguinte: “Vou pegar uma quantidade considerável de fluido magnético numa região que vós não conheceis. Vou torná-lo tangível, quer dizer, sólido, e vós vereis assim como eu e sentirão tanto quanto eu! É feito no mesmo instante..” Todos os assistentes declaram distinguir perfeitamente o fluido na mão do mestre. “Vou lançar esse fluido no gelo que está à vossa frente; vede e ouvi.” No mesmo instante um terror indescritível toma conta dos assistentes, um homem recebe o fluido em pleno peito, o que lhe ocasiona uma sufocação próxima da asfixia.
O mestre diz, então:

“Vós só podereis fazer essas coisas mais tarde, mas quero ensinar-vos as operações a fim de que vós possais fabricar fluidos magnéticos, com substâncias vegetais.” “A artemísia, a dedaleira, etc. são plantas magnéticas. Quando se fazem passes, se as temos nas mãos, isso aumenta a quantidade de fluido.”
Notemos ainda estas poucas indicações: “É preferível cuidar dos doentes antes do levante ou depois do poente do sol, à noite é melhor.”

Entregou-se, do mesmo modo, a diferentes pesquisas concernentes a arcanos médicos e com esse feito ocupou cargos em diferentes laboratórios. O mais conhecido situava-se à Rue du Boeuf, na Croix Rousse. Possuímos pouquíssimas informações sobre essas atividades e sobre os resultados subseqüentes. Que saibamos, somente André Savoret retomou esses trabalhos e aperfeiçoou alguns remédios. Encontravam-se no meio deles outras pesquisas sobre o ácido láctico, assim como o famoso soro “Héliosine”. Resultava da ação prolongada do cloreto de sódio sobre uma matéria rica em queratina.
O doutor E. Lalande conhecia, sem dúvida alguma, o conjunto dessa farmacopéia. Possui-se uma carta que ele endereçou a Papus, sugerindo-lhe a montagem de um laboratório espagírico, em associação, como o que Jolivet Castelot se animava.

Sempre se manifestaram, fora da iniciação, seres particularmente dotados.
Sem procurar estabelecer uma primazia ou uma hierarquia entre uns e outros, o que é entretanto notável, quase que único aqui, é a extensão e a qualidade dos poderes manifestados por esse ser. Verificamos cuidadosamente durante anos a autenticidade dos fatos relatados. Comparamos com outros homens dotados de poderes e devemos dizer que os seus continuam a ser um enigma que desafia a razão. A ascese, até mesmo a santidade. Sem dúvida porque eles são da ordem da Fé, da Graça ou do Mistério.

A conclusão que disso queremos deduzir é de que existem poderes de uma ordem infinitamente superior, agindo por intermédio de palavras simples e quotidianas, tendo como centro, a humildade e o amor. Mas estamos aqui a mil léguas das litanias dos Deuses, das magias, e dos saberes, e nem todos podem tomar emprestada essa via. Atemo-nos, no entanto, a assinalá-la. Nem exotérica, nem esotérica, como uma espécie de piscadela de um humor colossal que Deus nos dá de tempos em tempos, modificando todas as nossas lógicas, todas as nossas construções e nossos esquemas, liberando, de alguma forma, a Força das tiranias e das “passagens obrigadas” onde pensamos tê-la avistado de relance ou coagido.

SDK